quarta-feira, 12 de maio de 2010

Meu querido zumbi


Meu primeiro contato com as criaturas conhecidas como zumbis, os mortos-vivos, sedentos de cérebro que aterrorizavam uma cidadezinha aconteceu durante as tardes de ócio de minha infância na frente da televisão.
Assisti alguns filmes de zumbi durante minha adolescência, se eu me cosiderara adulto agora, de qualidade péssima com aquela lenga lenga de sempre. Oh, meu Deus eles comem cérebro vamos fugir para o shopping da cidade ou encontrar nossos parentes em algum lugar misterioso.
Nada que não passasse de uma ou duas horas em frente da tv vendo pessoas morrerem...

Isso até algum tempo atrás quando ouvi falar de um sucesso estrangeiro que soava tanto inteligente quanto engraçado para meu nerd modo de ser. Um livro chamado Orgulho e Preconceito e Zumbis, a versão de Jane Austen + zumbis atacando a Inglaterra.
O começo do livro é: "É uma verdade universalmente aceita que um zumbi, uma vez na posse de um cérebro, necessita de mais cérebros."

Ainda não finalizei a leitura, ela é inovadora para o gênero que criou e foi a responsável por despertar - na minha opinião - o interesse na literatura contendo zumbis.



Em breve o livro vai se transformar em filme e a matadora de zumbis Elizabeth Bennet será interpretado por Natalie Portman.


Li o conto de Isaac Marion, I am a zumbie filled with love (Eu sou um zumbi apaixonado) onde um zumbi narra sua vida pós-morte-e-vida-novamente. O conto é fantástico em todos os sentidos, tanto por colocar sensações para um zumbi quanto por explicar a preferência por cérebro:

"Eu como o cérebro dele, porque é a melhor parte. É a parte que, quando engolida, faz minha cabeça se iluminar com sensações. Memórias claras. De três a dez segundos, dependendo da pessoa, eu consigo me sentir vivo. Eu distingo traços de refeições deliciosas, belas canções, perfumes, crepúsculos, orgasmos, vida. E então tudo se dissolve, eu me levanto e vou tropeçando para fora da cidade, ainda morto, mas sentindo como se o fosse um pouco menos."

O conto foi o pontapé para o livro Warm Bodies que será lançado este ano, assim como a versão cinematográfica dirigida por Jonathan Levine. Assista o Book Trailer aqui.


O Brasil também não ficou de fora dessa onda, a inovadora Editora Draco lançará ainda este ano o livro Terra Morta, que estava sendo publicada na internet pelo autor Tiago Toy.

"Dois infectados vagam no meio da rua, cheirando, rosnando. O mais alto, negro, veste um uniforme laranja da Prefeitura, com várias manchas de sangue no lado direito do corpo. Há uma mordida em sua face, onde a pele foi estraçalhada deixando o globo ocular direito totalmente exposto. Parece uma bola de gude prestes a cair e espatifar-se no asfalto escuro."



A história dos zumbis

Como vampiros morrendo ao sol, zumbis comendo cérebro também foram características dadas pelo cinema.
Zumbis são inicialmente originários da mitologia haitiana, onde os mortos voltavam do túmulo por culpa de feiticeiros ou sacerdotes ligados ao voodoo. Um caso famoso é de 1980 de Clairvius Narcisse que teria morrido supostamente em 1962 e surgiu dizendo-se ter sido ressuscitado por um sacerdote.
Houve no Haiti um estudo conhecido como Projeto Zumbi, idealizado pelo antropólogo e etnobotânico Wade Dawis em busca de respostas para os zumbis. Ele chegou a conclusão que os sacerdotes usavam pós usando plantas secas e animais.
De acordo com a teoria de Davis, o pó, aplicado topicamente, irritava e rachava a pele da vítima. A tetrodotoxina poderia então passar para a corrente sangüínea, paralisando a vítima e causando sua morte aparente. A família enterraria a vítima e o sacerdote retiraria o corpo do túmulo. Se tudo corresse bem, acabaria o efeito do veneno e a vítima acreditaria ser um zumbi.



Leiam a minha zumbificação do livro Uma crença silenciosa em anjos, não foi tão difícil reescrever o texto:


Uma crença silenciosa em Zumbis

R. J. Ellory e Alex Bastos


Rumores, boatos, folclore. Fosse qual fosse a forma de um zumbi, diziam que indicava uma maldição.

Na manhã de quarta-feira, 12 de julho de 1939, eu vi um. Era comprido e fino, diferente de qualquer humano que eu já tivesse visto. Rodeou a porta quando eu a fechei, conseguiu quebrar uma das janelas e entrar em meu quarto. Segurei-o e matei-o (novamente), depois mostrei a minha mãe. Ela disse que ele era um criador de pesadelos. Fiquei um bom tempo pensando naquilo. Fazia sentido. Era daí que vinham os pesadelos – dos zumbis que nos cercavam enquanto dormíamos. O zumbi me deixou pensando nessas coisas. Coisas como Deus. Coisas como Jesus morrendo na cruz por nossos pecados, e depois levantando-se dos mortos como o primeiro zumbi da História. Jamais gostei da ideia, nunca fora um garoto religioso. Mais tarde, anos depois, eu entenderia a analogia. Era como se minha infância fosse infestada de gente que dizia uma coisa e fazia outra. Até nosso ministro, que percorria a paróquia a cavalo para exterminar os mortos-vivos e fazer pregações, o reverendo Benedict Rousseau, era hipócrita, um charlatão, uma fraude: uma das mãos indicando o Caminho dos Livros Sagrados, a outra, perdida no corpo de algumas mortas-vivas ainda quentes. Naquela época, quando eu era criança, nunca via realmente essas coisas. As crianças, embora perspicazes, têm visão seletiva. Veem tudo, não se discute, mas escolhem interpretar o que veem de uma forma que convenha às suas sensibilidades. E assim foi com o meu primeiro zumbi: nada demais, mas, de alguma forma, um presságio, um agouro. O criador de pesadelos viera me visitar. Eu estava plenamente convencido, então, os acontecimentos do dia pareceram, todos, ainda mais disparatados e incongruentes. Pois esse foi um dia em que tudo mudou.


P.$: Não duvido que se tudo isso render o filme Celular, baseado no livro de Stephen King também não deslanche para os cinemas.