sábado, 29 de setembro de 2012

Trem Noturno – Martin Amis


Acima de tudo esse livro é um profundo romance noir.
           Martin Amis é um inglês que situa sua trama em uma cidade dos Estados Unidos, como os bons clássicos dessa vertente, entretanto, no lugar de um policial decadente o papel principal da trama é dado a uma mulher – com nome de homem -, Mike Hoolihan.
          Os adjetivos básicos para uma obra noir estão firmes e fortes tanto em Mike quanto nas demais partes do livro. Ela é uma policial melancólica, fumante, ex-alcoólatra e em alguns momentos fria. E é pelo ponto de vista narrativo de Mike que vemos o mundo, tendo como gatilho um crime.
Jennifer é a loira que desenvolve o papel de femme fatale ao inverso, já que é encontrada morta, nua e com três tiros dados na boca. Alguém linda, saudável, bem casada, exímia profissional e sempre sorridente poderia do nada cometer o suicídio?
Suicídio é, talvez, o maior assunto das entrelinhas que ocupa parte do discurso interno da narradora. Suicídio é o trem noturno. Aquela última ação irreversível cometida enquanto todos os demais mortais estão na tranqüilidade de suas camas, digo, vidas. O trem noturno é a morte que apenas nos leva pra estação final.
Quando eu falo sobre alguns trechos crus ou duros nada melhor que dois fragmentos que me tocaram: ‘Pensei: que bela cena de crime’ ou ‘Oito dias depois e Jennifer Rockwell ainda está aberta como um prato de banquete... ‘
Sendo Jennifer uma conhecida e o pai dela seu chefe, Mike mergulha na investigação, avaliando todos os pontos de uma vida perfeita em busca de uma falha na felicidade visível nas ações da mortal dama morta.
O niilismo, a solidão no meio urbano, as falhas morais e os flashbacks dos romances que iniciaram o noir foram moldados para serem lidos ao som do jazz Night Train de Oscar Peterson.
Este é o livro quando você procura uma narrativa angustiante, que vai apertando as têmporas conforme as páginas passam e mesmo assim não se esquece de ser questionador.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Resenha: Corrida de Escorpião - Maggie Stiefvater


       No mar de Escorpião existe uma ilha, no mês de novembro cavalos mágicos surgem do oceano para  o bem ou mal dos moradores...
      "Os cavalos d'água são famintos e maus, violentos e belos, amam e odeiam cada um de nós."
      A autora baseada na lenda irlandesa-escocesa dos capall uisce (O Brasil tem essa versão também, o boto cor-de-rosa que se transforma em homem) utilizou alguns aspectos da história em um cenário simples para compôr uma intriga interna entre dois personagens principais não muito diferentes. 
      Sean e Puck são os protagonistas e também os narradores. Ambos, infelizmente, não convencem o leitor e nem possuem uma linguagem diferente para descrever as situações, que são realizadas cronologicamente. 
       Puck é uma jovem com dois irmãos, órfãos. Decide participar da Corrida de Escorpião para manter seu irmão por mais um tempo morando na ilha, coisa que desde o princípio é obviamente desnecessária e tola para o leitor e qualquer outro personagem fora de sua pele. Lá pelo meio da história ela se dá conta disso, mas pretende participar mesmo assim .pelo prêmio em dinheiro, já que a casa onde mora está prestes a ser tomada pelo credor. 
      Sean já ganhou a Corrida de Escorpião quatro vezes - das seis em que participou -  e sabe que correr com capaill uisce é uma coisa perigosa e mágica. Ele precisa do dinheiro e da vitória para poder comprar seu cavalo, Corr. 
      De um lado um vencedor experiente com seu capaill uisce e do outro Puck com sua égua normal, Dove. 
        A autora não soube trabalhar a narração dos personagens, muitos capítulos são diferenciados apenas porque começam com o nome do narrador, ritmo, vocabulário e personalidade se confundem o tempo todo.  Em compensação não caiu na febre da literatura Young Adult em colocar a jovem dividida em duas paixões másculas, sobrenaturais e com barriga de tanquinho. 
      Puck sofre com o machismo por ser a primeira mulher a se inscrever na Corrida e Sean sente a cobrança de ser um vitorioso solitário. Um romance entre os dois era inevitável desde o início, mas consegue se manter saudável e dentro dos limites de um livro de ação. 
       Qualquer comparação com Jogos Vorazes é inútil apesar da proposta: Algumas corridas são feitas para vencer. Outras, para sobreviver. 
       Poucos capítulos não são cansativos, chegar ao meio do livro foi um trabalho lento e talvez desse ponto em diante é que a escritora consegue, desculpe pela expressão, tomar as rédeas e mostrar o que pretende fazer com a trama.  
      Minha principal intenção ao ler A Corrida de Escorpião era entender mais o amor aos cavalos e um funcionamento de um haras. Em nenhum me senti satisfeito. Se o livro deixou na mão em muitos aspectos, pelo menos ensinou uma verdade que talvez muitos jovens venham a aprender: Nada é completamente inofensivo.