Acima de tudo esse livro é um profundo romance noir.
Martin Amis é um inglês que situa sua trama em uma cidade dos Estados Unidos, como os bons clássicos dessa vertente, entretanto, no lugar de um policial decadente o papel principal da trama é dado a uma mulher – com nome de homem -, Mike Hoolihan.
Os adjetivos básicos para uma obra noir estão firmes e fortes tanto em Mike quanto nas demais partes do livro. Ela é uma policial melancólica, fumante, ex-alcoólatra e em alguns momentos fria. E é pelo ponto de vista narrativo de Mike que vemos o mundo, tendo como gatilho um crime.
Jennifer é a loira que desenvolve o papel de femme fatale ao inverso, já que é encontrada morta, nua e com três tiros dados na boca. Alguém linda, saudável, bem casada, exímia profissional e sempre sorridente poderia do nada cometer o suicídio?
Suicídio é, talvez, o maior assunto das entrelinhas que ocupa parte do discurso interno da narradora. Suicídio é o trem noturno. Aquela última ação irreversível cometida enquanto todos os demais mortais estão na tranqüilidade de suas camas, digo, vidas. O trem noturno é a morte que apenas nos leva pra estação final.
Quando eu falo sobre alguns trechos crus ou duros nada melhor que dois fragmentos que me tocaram: ‘Pensei: que bela cena de crime’ ou ‘Oito dias depois e Jennifer Rockwell ainda está aberta como um prato de banquete... ‘
Sendo Jennifer uma conhecida e o pai dela seu chefe, Mike mergulha na investigação, avaliando todos os pontos de uma vida perfeita em busca de uma falha na felicidade visível nas ações da mortal dama morta.
O niilismo, a solidão no meio urbano, as falhas morais e os flashbacks dos romances que iniciaram o noir foram moldados para serem lidos ao som do jazz Night Train de Oscar Peterson.
Este é o livro quando você procura uma narrativa angustiante, que vai apertando as têmporas conforme as páginas passam e mesmo assim não se esquece de ser questionador.