terça-feira, 21 de agosto de 2012

Resenha: Geração Subzero - Org. Felipe Pena




Os autores não estão preocupados com os leitores, mas apenas com a satisfação da vaidade intelectual. Não são lidos porque são chatos, herméticos e bestas.” Esse é um resumo da longa introdução do livro, feita pelo organizador Felipe Pena.
A seleção dos escritores foi feita com base no que Felipe via na internet ou ouvia em grupos de discussão literária em comparação com a opinião dos críticos especializados. Quem escolheu o conto a ser publicado foram os próprios selecionados, independente de ser inédito ou não.
A pedra fundamental da coletânea é o Manifesto Silvestre , principalmente o artigo terceiro.
3. A ficção brasileira precisa ser acessível a uma parcela maior da população. O que não significa produzir narrativas pobres ou mal elaboradas. Rejeitamos o rótulo de superficialidade. Escrever fácil é muito difícil.
E no fim das contas a proposta é esta: escrever fácil e embalar os leitores. A edição dos textos foi feita por Ana Cristina Rodrigues e Priscila Corrêa, para quem não sabe a primeira moça é defensora da literatura especulativa nacional e tem conhecimento editorial para este projeto da Record.
Os nomes mais conhecidos foram os que mais deixaram a desejar, fosse por esperar algo diferente das histórias pelas quais ficaram conhecidos ou porque os contos não foram tão envolventes quanto se pretendia de início.  Gosto de ser julgado pelas coisas que gosto, então veremos as minhas partes favoritas. :D

Cirilo S. Lemos, -só tenho lido elogios sobre seus trabalhos -, soube muito bem trabalhar o texto dentro de um futuro cyberpunk nas favelas:  
“Tubarão passava as festas inteirassem seu divã-móvel, entupindo-se de comida e sendo chupado na Realidade Virtual pelas madames esculpidas em bioplástico ávidas por experiências novas ao som da batida hipnótica de variação neofunk do blend e do suyba.”

Teve espaço para uma homenagem à Amy Winehouse através das palavras de Carolina Munhóz:
“E com 27 anos a rainha do jazz pop deixava o mundo em lágrimas.
Um mundo que tento cuidar dela. Que tentou lhe dar amor.
Mas ela teimava em dizer não.
E não. E não.”

Luiz Bras em sua ficção-científica neurodramática (acabei de criar essa expressão) O índio no abismo sou eu, me encantou:
“Antes eu não era nada, agora sou qualquer coisa que não sei bem o que é. Talvez eu seja só a própria eletricidade atravessando uns poucos neurônios.”

Menção honrosa para o humor estabelecido no conto O cão, que me fez dar boas risadas e ao misterioso O escritório de design probabilístico que soube trabalhar com a tensão sem criar um final tosco para a história. Esperava que a autora Andréa del Fuego estivesse presente no livro, mas a crítica é muito mais simpática para com ela.
No fim o resultado foi bem maior do que alguns consideram, não é uma simples resposta a Revista Granta, mas também uma demonstração do que pode ser produzido e muito bem apreciado fora da ‘literatura’.
Todos os direitos autorais foram cedidos para a ONG Ler é dez, leia favela. Uma salva de palma bem merecida aos autores.