“Os autores não estão preocupados com os
leitores, mas apenas com a satisfação da vaidade intelectual. Não são lidos
porque são chatos, herméticos e bestas.” Esse é um resumo da longa
introdução do livro, feita pelo organizador Felipe Pena.
A
seleção dos escritores foi feita com base no que Felipe via na internet ou
ouvia em grupos de discussão literária em comparação com a opinião dos críticos
especializados. Quem escolheu o conto
a ser publicado foram os próprios selecionados, independente de ser inédito ou
não.
3. A ficção brasileira precisa
ser acessível a uma parcela maior da população. O que não significa produzir
narrativas pobres ou mal elaboradas. Rejeitamos o rótulo de superficialidade.
Escrever fácil é muito difícil.
E
no fim das contas a proposta é esta: escrever fácil e embalar os leitores. A
edição dos textos foi feita por Ana Cristina Rodrigues e Priscila Corrêa, para quem não sabe a primeira moça é defensora da literatura
especulativa nacional e tem conhecimento editorial para este projeto da Record.
Os
nomes mais conhecidos foram os que mais deixaram a desejar, fosse por esperar
algo diferente das histórias pelas quais ficaram conhecidos ou porque os contos
não foram tão envolventes quanto se pretendia de início. Gosto de ser julgado pelas coisas que gosto,
então veremos as minhas partes favoritas. :D
Cirilo S. Lemos,
-só tenho lido elogios sobre seus trabalhos -, soube muito bem trabalhar o
texto dentro de um futuro cyberpunk nas favelas:
“Tubarão
passava as festas inteirassem seu divã-móvel, entupindo-se de comida e sendo
chupado na Realidade Virtual pelas madames esculpidas em bioplástico ávidas por
experiências novas ao som da batida hipnótica de variação neofunk do blend e do suyba.”
Teve
espaço para uma homenagem à Amy Winehouse através das palavras de Carolina
Munhóz:
“E
com 27 anos a rainha do jazz pop deixava o mundo em lágrimas.
Um
mundo que tento cuidar dela. Que tentou lhe dar amor.
Mas
ela teimava em dizer não.
E
não. E não.”
Luiz
Bras em sua ficção-científica neurodramática
(acabei de criar essa expressão) O índio
no abismo sou eu, me encantou:
“Antes
eu não era nada, agora sou qualquer coisa que não sei bem o que é. Talvez eu
seja só a própria eletricidade atravessando uns poucos neurônios.”
Menção
honrosa para o humor estabelecido no conto O
cão, que me fez dar boas risadas e ao misterioso O escritório de design probabilístico que soube trabalhar com a
tensão sem criar um final tosco para a história. Esperava que a autora Andréa del Fuego estivesse presente no livro, mas a crítica é muito mais simpática para com ela.
No
fim o resultado foi bem maior do que alguns consideram, não é uma simples
resposta a Revista Granta,
mas também uma demonstração do que pode ser produzido e muito bem apreciado
fora da ‘literatura’.
Todos
os direitos autorais foram cedidos para a ONG Ler é dez, leia favela.
Uma salva de palma bem merecida aos autores.