A feiticeira Ada levantou-se respirando o ar da noite fria. Seu cabelo vermelho manchava a escuridão como uma salamandra de fogo, o perfume da pele misturando-se com o aroma das flores noturnas.
Curvou-se para frente e impulsionou os pés em direção ao precipício à sua frente. Os braços transformaram-se em asas com belas penas e foram diminuindo, assim como seu corpo. Em segundos, abandonou a forma de mulher e transformou-se em uma coruja de grandes olhos amarelos.
Sobrevoou o pequeno vilarejo abaixo de si e escolheu com precisão a casa onde entraria. Na porta da casa, abandonou a forma de ave e voltou a ser uma linda mulher nua.
Com um movimento de sua mão, a porta de madeira abriu-se sem fazer ruídos. Entrou na casa singela, admirando até mesmo a teia de uma jovem aranha que se aninhara num canto da cozinha. Ada estava triste, iria abandonar a região.
Empurrou a porta do quarto e observou por um longo tempo o homem adormecido entre os lençóis. Seu homem. Ajeitou-se ao lado dele, colou seu corpo frio e soprou no ouvido dele, impossibilitando completamente que despertasse do sono enquanto ela estivesse ali.
Com os dentes pontiagudos, furou-lhe o pescoço e sugou o líquido carmesim; conforme provava do sangue, parte da alma de seu amado incorporava-se à sua.
Saiu da casa com a mesma delicadeza com que chegara.
Olhou para o amontoado de madeira e palha no centro da vila, onde pretendiam queimá-la no dia seguinte, transformou-se em animal e correu para a floresta, deixando para trás espirais de magia.